sábado, 8 de setembro de 2007

Padin Chico - No compasso da persuasão


O projeto de transposição das águas do Rio São Francisco começou a ser alardeado como 'a mais moderna solução' para a seca do nordeste em 1847.

Desde então, praticamente todos os governos federais discutiram a grandiosa obra de engenharia. Neste período, aqueles que se opunham à construção cresceram, se multiplicaram e se diversificaram. No governo Lula o assunto mais uma vez, se fortaleceu na agenda orçamentária. Desta vez o início da construção já tinha data para começar. O presidente falava aos quatro cantos que “nunca nesse país…

O IBAMA do século XXI liberou a realização alegando que tudo mudou e o meio ambiente não teria mais prejuízos. Liminares foram derrubadas em outras instâncias políticas-jurídicas. As obras iam acontecer e apenas o noticiário especializado repercutia. Foi quando Dom Luis Flavio Costa, bispo diocesano de Barra (BA), ocupa os jornais, rádios e tvs anunciando que entrara em greve de fome para convencer o Poder Público a adiar o início das obras. Em um documento, Dom Costa diz que está disposto a levar o jejum até a morte, caso o projeto não seja suspenso.


Da úmida Avenida Paulista aos mais remotos cantos-secos do Brasil, passeatas emocionadas são feitas a favor de Dom Luis Costa. Faixas e cartazes de apoio, solidariedade e pedidos de plebiscito. Dom Luis aparece na TV cada vez mais magro. A pressão aumenta e o assunto ganha as primeiras páginas dos jornais, o último bloco dos telejornais e o horário matinal das rádios noticiosas.

A greve, de um-santo-homem-só, ganha repercussão internacional e o (na época) Ministro das Relações Institucionais Jacques Wagner (hoje governador) chega levantando muita poeira na seca cidade baiana. Com ele está uma imensa comitiva - de carros 4X4, seguranças e principalmente repórteres - para acompanhar a negociação com o grevista.

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, maior megaphone da Igreja) se anuncia contra a transposição, mas reclama a escassez de poderes em um Estado laico. Dom Geraldo Majella traz a palavra, em nome da entidade sagrada:
“A Igreja tem o poder, digamos, de persuasão, mas não de determinação”

Dom Luis Costa se empolga:
“Tenho muita esperança no bom senso das nossas autoridades. Mas se por um acaso isso não acontecer eu estou nas mãos de Deus”.

O Carnaval se aproxima:

Elba Ramalho, em seu blog recém-inaugurado, também critica a transposição do Rio São Francisco. Supostamente a obra levaria água do Velho Chico para outros estados, inclusive para a terra natal de Elba, a Paraiba. Mas Elba está animada e tem argumentos vigorosos, além do apoio da CNBB, da OAB e do MST.


Censurada e perseguida por se declarar contra a transposição, Ramalho é bombástica: cancela a participação no carnaval de sua cidade e ameaça não voltar mais à Paraiba. Xeque-Mate. O assunto finalmente ganha destaque em veículos de amplo alcance, como as revistas semanais de celebridades.

Após muitas dicussões na TV aberta e algumas na TV Senado, as obras são paralizadas em respeito à devoção do bispo engajado e de outras manifestações hereges.

O governo da Paraiba, no entanto, não arrasta-pé e cancela o cachê de Elba Ramalho para o carnaval deste ano.
Segundo alguns moradores de Barra (BA), Dom Flavio Costa está visivelmente mais gordo.
A seca, as obras e o PAC seguem em água morna.
Dizem que mais uma vez Elba terá um trio-elétrico só para ela no carnaval de Salvador.

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