segunda-feira, 22 de outubro de 2007

UTI Brasil – O nosso ‘Tropa’


Sem entrar no mérito das qualidades cinematográficas do longa-metragem ‘Tropa de Elite’, acreditamos no enorme valor que este filme tem ao provocar um debate de grandes proporções em grupos sociais normalmente alienados a questões coletivas. Mas principalmente, acreditamos que sua grande contribuição foi ter motivado muita gente a sair do armário e proferir discursos fascistas. Acreditamos que uma sociedade melhor não é composta por uma massa de supostos humanistas envoltos em discursos politicamente corretos (falsos, porque são antagônicos à prática de muitos destes indivíduos) e sim por sua diversidade explicitada em debates públicos. Uma sociedade melhor é uma sociedade menos hipócrita, em que os 'higienistas', 'justiceiros' enfim, defensores de todos os tipos de valores, possam mostrar a sua cara e soltar o seu verbo publicamente. Só com a diversidade explícita é possível exercer algo aproximado à democracia plena (algo que estamos muito distantes, justamente por nossa tradição de dizer uma coisa na sala, fazer outra na cozinha e chorar outra no quarto.)
Para não ficar de fora desta chamada ‘contribuição social’ a série Memória Ativa também fez a sua parte e, com sua nona edição (“UTI Brasil”) suscitou debates acalorados e depoimentos emocionados em mesas de bares, chats, foruns e comunidades internéticas. Eis um exemplo do que foi postado na página do vídeo no youtube:


“Se não fosse os europeus ou outro povo mais desenvolvido que os índios, isso aqui não existiria. Só haveria índios vivendo no mato em tribos como na idade da pedra lascada...
É a mesma situação da África Negra”.

Comentário de Skullhead88 ao “UTI Brasil”. (postado no youtube)

**Confira por que a nona edição do memoriativa gerou polêmica e comentários sintomáticos, clicando no título deste post. Manifeste-se você também

Padin Chico - Gato d’água



- Enquanto isso, na “Sala da Justiça”…

- Brasília é um local muito seco. É impressionante, não precisa usar toalha, saiu do banho já está seco. Por isso, a importância das piscinas no cenário do cerrado, que além de trazerem fragmentos de azul para contrastar com o bege da poeira, minimizam os problemas de pele e o ressecamento das retinas dos moradores do Plano Piloto. Por isso Brasília é conhecida nacionalmente como a cidade das piscinas. Por isso parece muito comum e sem necessidade de ampla repercussão a notícia abaixo:

“O furto de água está crescendo nas áreas chiques de Brasília. Foram descobertas 440 ligações clandestinas de água. Os moradores fazem o chamado gato e não pagam nada. Em geral, a água serve para irrigar os jardins e encher as piscinas que são muitas nessa região.”

Num depoimento em OFF, um dos moradores da Asa Sul - que fora flagrado com um sistema ilegal de “interceptação de água” (e não quis se identificar) - trouxe a tona o seu ponto de vista sobre a questão: “O que tem de mais fazer um gato? O governo deveria sim regulamentar os gatos para regiões secas como o Planalto Central. Igualdade de condições, liberdade para fazer gatos tanto nas cidades-satélite quanto no plano piloto. Vamos deixar de ser hipócritas e exigir que o governo subsidie os gatos de água. Falta sensibilidade aí. Passe uma semana em Brasília no auge do período das secas e terás sensibilidade à flor da pele. O problema do Brasil é a falta de regulamentação. Se regulamentássemos a trambicagem, o preconceito, os disturbios, teríamos um outro país. Mas quem quer outro país?”

É muito dificil identificar no discurso deste senhor (M.B. – 43 anos) o quanto há de ironia, de cinismo, de surrealismo ou de ideologia convicta. Lamentamos que o depoimento tenha sido em OFF e que pessoas como ele ‘se escondam em liberdade’.

**Clique no título deste post e assista a um trecho da reportagem citada acima (inserida em um contexto que amplia a questão)

sábado, 20 de outubro de 2007

UTI Brasil – Revelações do nosso povo


Em mais uma garimpagem internética, o ‘Blog Memoriativa’ localizou uma acalorada discussão sobre a nona edição do memoriativa (MA9 – “UTI Brasil”) A ‘troca de informações’ entre supostos portugueses e supostos brasileiros, ( em: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=795788&tid=2560775496075849181 )
foi travada na comunidade do orkut entitulada “História”, com 57.189 membros. O título da discussão é “Os índios que quase foram civilização”. Em certo momento, um internauta que se apresentou como Eduardo questionou o conceito de ‘civilização’ e indicou o “UTI Brasil” para ser incluido como objeto do bate-papo. O vídeo foi assistido por alguns membros da comunidade e provocou reações sintomáticas da nossa verdadeira opinião pública (que cada vez mais se vale da internet para sair do armário em tempos de ''Tropa de Elite')


Antônio - diz
O vídeo que o senhor Eduardo indicou é realmente uma ode ao preconceito e uma manipulação histórica que somente se explica pelo ódio dalguns parvos para com os povos europeus que construiram o Brasil.
Aliás, muitas das doenças citadas no filme mal intencionado são doenças ditas "tropicais", adquiridas pelos europeus em outras paragens, possivelmente vindas do contato com outros povos que vitimavam os europeus em larga escala também.


Caleb Hammer - confirma e se empolga
Se esse vídeo tratasse o assunto com uma visão inversa era capaz do autor ser chamado de nazista e ser preso.




Asclépio - denuncia
Antônio, você está sendo totalmente "parcial" nesse seu comentário, pois você está defendendo os portugueses (o seu eu....Luso).


Eduardo - apela
“Epidemias e extermínios..”
Prezado Antônio
O meu sangue é português. E discordo de ti.
Acho que estás por demais tomado pela emoção e identificação com os bravos desbravadores que aqui aportaram há 1507 anos e interpretaste o vídeo de maneira muito radical.
Não acho que o vídeo acuse diretamente os portugueses. Acho que faz um comentário sobre algo que é fato. Diversas epidemias foram trazidas pelos conquistadores náuticos, milhares (milhões?) de índios morreram contagiados por algo que seus organismos antes não conheciam. Civilizações foram destruídas. Ninguem há de contestar isso. Era algo normal na época, como era normal escravizar e viajar longos meses em condições desumanas. (o problema é o que era normal antes ser normal hoje)
Não acho que o vídeo acuse os europeus (que ajudaram a construir o Brasil juntamente com os índios e os africanos - e não sozinhos, como sugeriste). Na minha opinião o vídeo fala de algo muito mais relevante no momento. Ele joga luz ao fato de que as mesmas doenças que dizimaram os índios e agitaram túmulos em séculos remotos continuam a matar nossa população em proporções assustadoras. Ou seja, a saúde pública do Brasil parece tão arcaica como era a saúde nas dependências das caravelas e galeras. Muitas curas foram descobertas, mas custam muito caro para quem não tem crediário. Não se trata de definir culpados, mas identificar um problema que passa desapercebido pela maioria. Nossos antepassados estavam adaptados à epoca em que viviam. E nós?


De Leon - determina
Eles quase viraram civilização, mas não viraram pq eram atrasados e primitivos, e por consequencia foram subjulgados como todos barbaros e selvagens foram e devem ser.



Antônio - encerra filosoficamente
Entendo o seu ponto de vista Eduardo, mas com certeza esse vídeo foi feito com o dedo em riste!
Liga diretamente em tom claro de acusação as doenças a presença dos Portugueses, como que se esses não padeçessem de doenças trasmitidas pelos índios, e é um crime colar os nomes das doenças por cima das caravelas, que para os portugueses são um símbolo nacional.
Enquanto não se superar esses preconceitos contra os Portugueses, antepassados da maioria dos brasileiros, muitas ações e boa parte da realidade brasuca não mudam.
Certos julgamentos e valores influenciam em como se leva a vida...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Linha de Chegada – ‘Pole Postion’ (ou ‘Poesias, tragédias e estatísticas’)


Consta no Wikipédia, que costa nos livros ‘da História desse país’, que consta nos documentos oficiais que o primeiro ser humano a rodar um automóvel em terras brasileiras foi ele, o Grande Pioneiro. O homem que chamam de “O pai da aviação” - que dizem que ensinou o mundo a voar e depois suicidou-se - foi também um desbravador em quatro rodas, importando um belo automóvel às esburacadas ruas do balnáreo de São Sebastião. Alberto Santos Dumond, ‘o homem alado’, foi também, segundo os fãs, aquele que motivou a modernização de uma nação antes movida a quatro patas e carroças. Dizem ser este um importante capítulo da História do país bom de decolagem mas nem tanto de pouso.

Paralelas - A Tocha, um simbolo da SEDE

Em mais um trabalho de garimpo internético, a equipe do 'Blog Memoriativa' encontrou preciosidades a respeito de uma das mais importantes SEDES dos Jogos Olímpicos. Neste post, Berlin 1936 é lembrada com nostalgia poética em um emocionado depoimento de Hans Hamman, imigrante alemão e alfaiate aposentado. Em seguida, um vídeo de sucesso na web, que contempla o nascimento do ritual olímpico da tocha. A chama ardendo durante as provas de superação humana (homens contra o tempo, homens contra homens, brancos contra pretos, arianos contra etc..) simbolizaram uma era que marcaria o espírito olímpico como mais um espelho das essências humanas.

"Naquele momento eu era um jovem fascinado pela perfeição estética. A beleza da arquitetura, dos gestos, dos uniformes, dos símbolos (...) Foi um momento mágico que qualquer alemão que o vivenciou, jamais esquecerá. A partir deste evento, as chamas da TOCHA foram definitivamente incorporadas à simbologia olímpica. Hoje entendo que tal evento mudara profundamente a cordialidade entre os povos. Feridas horríveis marcaram definitivamente a consciência dos homens depois de 1936. Mas na época eu só queria reverenciar a supremacia estilistica dos uniformes, a plasticidade dos gestos e o calor da TOCHA (...) Como tudo era belo(...) Queria agradecer a oportunidade de assistir a imagens que provocaram tanta emoção. Não sabia que uma coisinha dessas (computador) pudesse proporcionar tamanho prazer"

trecho de depoimento de Hans Hamman - alfaiate aposentado - alemão naturalizado brasileiro



**clique no título deste post e assista a pílulas sobre alguns dos papéis que as olimipíadas representaram na cultura do século XX

Linha de Chegada – poesias, tragédias e Estatísticas



A cada 13’ ocorre um “acidente “ de trânsito no Brasil.
A cada 7’ ocorre um atropelamento.
Além das 46 mil mortes anuais por “acidentes” de trãnsito, 300 mil pessoas ficam feridas, 60% com lesões permanentes.
Desses mortos, 44% são vítimas de atropelamentos e 41% estão nas faixas etárias entre 15 e 34 anos.
Cerca de 60% dos leitos de traumatologia dos hospitais brasileiros são ocupados por “acidentados” no trânsito.
Na cidade de São Paulo ocorre um acidente a cada 3,2 minutos.
Mais de 700 mil pessoas morreram em acidentes de trânsito de 1960 a 2000 no Brasil. Já não é novidade que temos no Brasil em média “uma guerra do Vietnã de mortos pelo trânsito” a cada ano.
A cada dez leitos hospitalares, cinco são ocupados por “acidentados” no trânsito.
“Acidentes” de carro e atropelamento matam mais crianças de 1 a 14 anos do que doenças.
Os “acidentes” de trânsito são o segundo maior problema da saúde pública brasileira, só perdendo para a desnutrição.

Trecho de “Carrros e Remédios”, de Ned Ludd.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Linha de Chegada – poesias Tragédias e Estatísticas




"A morte de uma pessoa é uma TRAGÉDIA, a morte de um milhão é uma ESTATÍSTICA"

Stalin

Linha de Chegada – poesias, Tragédias e estatísticas


“…Deixo apenas a sugestão de que a Rodovia Ayrton Senna - que um dia foi “dos Trabalhadores” – seja re-batizada “Rodovia Tambourello”, para avisar aos candidatos a piloto que, mesmo os “bons no volante”, podem se machucar com o excesso de velocidade..”

Da introdução (assinada por M.Baderna) ao livro “Apocalipse Motorizado – A Tirania do Automóvel em um planeta poluído” , organizado por Ned Ludd, publicado pela editora Conrad 2004 – coleção Baderna (www.baderna.org)

Linha de Chegada – Poesias, tragédias e estatísticas


Consta no wikipédia que consta nos livros de História, que consta nos Autos que, oficialmente, o primeiro acidente automobilístico brasileiro ocorreu na deslumbrante e arborizada Estrada Velha da Tijuca. Eram os últimos anos do século dezenove, menos de uma década depois da queda do Império.

Estamos em 1897 na charmosa capital da nova República sulamericana. O refrão cantado aos quatro cantos é "Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós!" O vitorioso abolicionista e poeta, José do Patrocínio, empresta ao colega Olavo Bilac sua mais recente conquista: o automóvel. Olavo, poeta de nobres versos altamente influenciados pelo romantismo, não possui carteira de habilitação e tampouco idéia de como dominar máquina tão exótica e poderosa. O poeta então arremessa o veículo de encontro a uma árvore. A árvore era uma bela nativa que ornamentava a estrada da floresta quase virgem. Bilac entra para a História como o primeiro brasileiro a desafiar os volantes. Dizem que o feito foi muito comemorado pelo autor, agitando a vaidade da ‘alta-classe’ brasileira.

*A fama de Olavo cresce com o passar do tempo. Na internet, o “pioneiro dos acidentes” é quase tão citado quanto “o poeta com influências do romantismo…”.

**clique no título deste post e assista a essa e outras estórias do automobilismo brasileiro

Memória Ativa 11 - Linha de Chegada