quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Ouro Verde – Energia, tradição e trabalho

Já diziam os mais antigos: “Nesta terra, em se plantando, tudo dá.” Ou alguma coisa assim.

As sementes de Cana vieram das Índias nas primeiras embarcações e foram logo bem tratadas. Incorporada - como quase tudo que experimenta nossa receptividade - a plantinha verde e migratória aqui virou suco, virou açucar e energizou as refeições do Velho Mundo. O pessoal que antes só tinha o aditivo da beterraba passou a pagar os tubos pra ficar ligado na nossa cana. Alguns dos nossos também prosperaram com a energia da terra. Dela também fizemos o álcool, nossa branquinha e o nosso cíclico torpor.
Foi para energizar a chamada civilização moderna - e iniciar nossa tradição de boa nação fornecedora - que resolvemos construir usinas e nos organizar economicamente, gerando trabalho a milhares de africanos que se mudavam para o Brasil.

Mesmo que não seja mais a única e predominante atividade lucrativa destas terras intermináveis, a monocultura do ouro verde segue firme e forte até hoje. Além de abastecer com recursos, influências e negócios, as famílias descendentes de colonos europeus, o cultivo concede o direito de trabalho a uma legião de afro-brasileiros (e de muitos outros prefixos que preenchem o caldeirão de brasileiros).

Apesar do regime de trabalho continuar muito parecido ou igual, hoje a categoria dos cortadores é mais diversificada. Já não são apenas afro-descendentes e sim gente de todos os cantos, cores e crenças. Hoje, o cultivo da cana tem ainda mais a cara do nosso país. A bóia, quando há, continua fria. E já não trabalham em troca de comida, moradia ou dinheiro.
Trabalham em troca de trabalho.

No século XXI, a grande maioria das denúncias sobre as chamadas ‘situações análogas à escravidão’ tem como foco as plantações de ouro verde. Muita gente ainda trabalha igual como nos primeiros anos de “existência” do nosso país. Além dos complexos mecanismos da dependência servil, utilizam-se das mesmas ferramentas tecnológicas de colheita. O bom e velho facão, o tradicional cesto de bagaço e o fogo. Grandes e ostentosas queimadas. Labaredas que emprestam novas cores ao ouro verde. Não sei se é simples imaginar o fogo como uma tecnologia agrícola. Mas o homem gosta tanto do fogo que, hoje e sempre, ele é o mais utilizado instrumento na colheita da cana, a genuína paixão nacional.

Hoje a tecnologia está na multiplicação do potencial agrícola. Experimentamos novos horizontes para a semente que aqui chegou para nos organizar economicamente. Mas apesar de tantas novidades, não há desequilíbrio. Os homens que ainda não foram substituidos pelas máquinas podem viver a tradição agrícola brasileira à flor da pele. Não precisam compactuar com esses valores importados, como direitos humanos, preservação da natureza ou direitos trabalhistas. A Cana é a nossa Cara.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante e oportuno esse reviver da história do nosso país. É muito importante termos essa concepção histórica e percebermos o quanto podemos nos desenvolver, pois da monocultura da cana, esse país tem enfrentado tantos desafios e resistido heroicamente àqueles que não amam esta nação. Parabéns!!!